Friday, April 29, 2016

CARTA À MINHA MÃE



Mamã, acho que era assim que te chamava quando era mais pequenina e acho que tu gostavas. Talvez te fizesse sentir que eu seria a tua pequenina para sempre. Mas depois eu cresci. Cresci e as nossas vidas afastaram-se. Não fisicamente, mas emocionalmente. Continuavas a ser a minha mãe, mas eras difícil. Eu pelo menos achava. Achava que não me entendias e que não fazias ideia do que estavas a fazer, comigo. O meu coração fechou-se, pouco a pouco. Era a minha maneira de me tentar proteger da dor e, ao mesmo tempo, tentar guardar o amor em algum lado. Fechei-o de tal forma a sete chaves que tive dificuldade a encontrá-lo mais tarde. 

Culpei-te. Pelas minhas frustrações, pelos meus comportamentos, pelas minhas falhas, pelas minhas más respostas. Culpei-te pela vida que não tive e pelo que não fui. Porque tu devias ser a minha mãe, aquela super-heroína que faz tudo e salva todos. Mas não eras. Eu achava que não eras, porque sentia que me fazias sofrer. Fartei-me dos gritos, das discussões sem sentido, de me sentir rejeitada. Queria, por um momento, ser eu o centro. Queria, por um momento, ser eu mesma, descobrir quem era, sentir que existia como Diana e não só como filha de alguém. 

Mas um dia a minha vida mudou. Deus encontrou-me e pegou-me pela mão. Eu dei-lha sem medos. Precisava de um pai e de uma mãe. Achava que não tinha nenhum dos dois. Precisava de uma mãe que não me julgasse, que não me criticasse, que me ouvisse e que me pegasse ao colo. E Deus foi tudo isso. Foi o pai que nunca tive e foi a mãe que eu achava não ter. E Ele curou as minhas feridas. Mostrou-me cada uma delas e limpou-as devagar, bem devagar.

Então trocou a minha dor por alegria, deu-me um coração cheio de graça, de perdão, de misericórdia e de amor. Ele encheu-me de tanto amor. E foi o amor que, dia após dia, me foi ensinando e mostrando a realidade como ela é. E Deus mostrou-me a mãe que gostarias de ter sido, mas que a vida não te permitiu ser. E fui entendendo que a minha luta não era contra ti. A Bíblia ensinou-me que não é contra seres humanos que temos de combater, mas contra poderes e autoridades, que dominam este mundo de escuridão, e contra os espíritos do mal, que não se vêem (Efésios 6:11). Tu querias, mas não conseguias. 

Tuesday, April 12, 2016

(ADORAÇÃO) DE CORAÇÃO


É desta. É agora ou nunca! Pedi a minha hora de almoço emprestada ao estômago para escrever (finalmente!) este texto, senão nunca mais. Deus nos ajude a remir o tempo, porque parece que ele voa cada vez mais rápido (será só comigo?)!

Há uns tempos estava na igreja e sentia uma opressão, como se algo estivesse a impedir o mover de Deus naquele lugar. Comecei a orar e perguntei a Deus o que se passava. Dentro de mim ouvi o Espírito Santo: "este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim". Comecei a chorar. Fiquei triste, muito triste, porque queria mais, precisava de mais e sei que muitos dos que ali estavam também precisavam. Sei que Deus quer derramar mais, muito mais, mas também sei que nós somos o maior impedimento para que isso aconteça. Nós, seres humanos, nas nossas atitudes, nas nossas escolhas... 

Esta palavra está originalmente em Isaías, quando este profetizava para Ariel [Leão de Deus], um dos nomes de Jerusalém. Dizia o profeta:
Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído; Isaías 29:13

No Novo Testamento vemos novamente esta palavra ser referenciada, desta feita por Jesus, quando questionado por uns escribas e fariseus de Jerusalém a propósito de uma tradição que os discípulos não respeitariam:

Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens. Mateus 15:7-9

Deus é perito em fazer-nos focar no que realmente importa. E para Ele, o que importa é o amor. Ele, que é amor, que deu o Seu único filho por amor, que ama o pecador, que corrige com amor, não nos pede nada mais, senão o nosso amor. Em Provérbios 26:23 lemos de forma clara Deus dizer Filho meu, dá-me o teu coração, mas se dúvidas houvesse, o próprio Jesus ensina nos evangelhos: Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças, este é o primeiro mandamento. (Marcos 12:30)

Assim sendo, não é difícil perceber que Deus não se mova quando está perante uma adoração pela metade, feita apenas de liturgias, de hábitos ou, como o profeta Isaías descreveu, de "mandamentos de homens em que foi instruído". Ir à igreja ao domingo, levantar as mãos, cantar, abrir a Bíblia, ouvir a pregação, tomar a ceia, nada disso por si só faz de nós adoradores. E Jesus foi claro quando disse que o Pai procura os verdadeiros adoradores, que o adoram em espírito e em verdade (João 4:23).