Saturday, May 6, 2017

VAMOS ATÉ AO JORDÃO?



Há muito tempo que penso em escrever-vos, mas começo a escrever e depois não sei, parece que não é o tempo, que não tenho vontade, que não sei bem como continuar e páro. Há uns dias atrás abri a Bíblia e pedi a Deus que falasse comigo. Tenho vivido tempos de introspeção e de reflexão e sofrido um bocadinho em silêncio e naquele momento sentia que precisava mesmo do poder da Palavra na minha vida. Fui parar a II Reis e li o seguinte:

E disseram os filhos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos diante da tua face, nos é estreito. Vamos, pois, até ao Jordão e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamo-nos ali um lugar para habitar. E disse ele: Ide. E disse um: Serve-te de ires com os teus servos. E disse: Eu irei. E foi com eles; e, chegando eles ao Jordão, cortaram madeira. E sucedeu que, derrubando um deles uma viga, o ferro caiu na água; e clamou, e disse: Ai, meu senhor! ele era emprestado. E disse o homem de Deus: Onde caiu? E mostrando-lhe ele o lugar, cortou um pau, e o lançou ali, e fez flutuar o ferro. E disse: Levanta-o. Então ele estendeu a sua mão e o tomou. II Reis 6:1-7

Li outros capítulos, mas estes versos ficaram a ecoar dentro de mim. Fiquei tão curiosa que voltei atrás. Porque é que no meio da história dos reis de Israel haveria de estar ali aquele fait divers? Achei tão estranho... agora até me dá vontade de rir, mas a verdade é que fiquei deitada na cama de luz apagada a pensar que isto  não podia estar na Bíblia por acaso. Não podia ser um engano, nem palha para encher, portanto, alguma coisa isto quereria dizer, "mas o quê", perguntava eu a Deus. E li e reli no telemóvel até que percebi algo... 

O lugar onde estou, onde estamos, está a ficar pequeno demais. Da mesma forma que uma planta a certa altura do seu crescimento precisa de ser mudada de vaso para poder crescer, há também um tempo na nossa vida em que o lugar (não necessariamente físico, mas espiritual, entendam-me) onde estamos, se torna demasiado apertado para o que Deus quer operar em nós. Há um momento em que é preciso alargar o lugar em que habitamos. Porque ele se tornou demasiado confortável. E porque essa terra já deu o que tinha para dar e já não tem nutrientes que nos permitam crescer e dar fruto. 

o lugar em que habitamos diante da tua face, nos é estreito. Vamos, pois, até ao Jordão...

Quando percebemos que já não podemos mais permanecer onde estamos, como estamos, que já não podemos fazer as coisas da mesma maneira e que há mais, então é tempo de ir até ao Jordão. O Jordão que significa "aquele que desce" ou "lugar onde se desce". E como nós precisamos descer... Para fazermos um novo lugar para habitar (e habitação fala de construção, de estrutura) é preciso descer da nossa altivez, descer da nossa arrogância, descer das nossas vontades, descer dos nossos achismos, descer da nossa condição atual e mergulhar, para ressurgirmos preparados para enfrentar um novo tempo, uma nova habitação cheia do Espírito Santo e do Seu poder!

Todos nós precisamos de chegar a este momento na nossa vida em que compreendemos que o lugar em que habitamos diante da face de Deus é estreito, como aqueles discípulos dos profetas fizeram. Reparem que não foi o profeta Eliseu que lhes disse para construírem um novo espaço, mas foram eles que perceberam que a habitação era pequena e lhe sugeriram ir até ao Jordão. Connosco não será diferente.
Amplia o lugar da tua tenda, e estendam-se as cortinas das tuas habitações; não o impeças; alonga as tuas cordas, e firma bem as tuas estacas. Is. 54:2 

É necessário passar o mar vermelho para nos vermos livres do Egipto, do passado, da escravidão, da rejeição... mas para entrar na Terra Prometida é preciso passar o Jordão primeiro. Meu Deus, como eu me identifico com isto. Já sentiram que já passaram por tanta coisa, viveram num deserto tanto tempo, que tudo o que querem é descansar e ver as promessas do Senhor se cumprir? Tenho-me sentido assim ultimamente. Às vezes sinto-me tão cansada, e triste até, quando sou confrontada com certas situações, que só choro e peço ao Pai que abrevie o tempo e me deixe ver aquilo que Ele prometeu. Se também te tens sentido assim recebe esta palavra para a tua vida e agarra-as com todas as tuas forças: Mas passarás o Jordão, e habitarás na terra que te fará herdar o Senhor teu Deus e te dará repouso de todos os teus inimigos e morarás seguro (Dt 12:10).

 e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamo-nos ali um lugar para habitar.

Voltando à texto de II Reis, diz que os discípulos dos profetas foram ao Jordão buscar uma viga. E uma viga é uma "trave que sustenta uma construção, um elemento estrutural das edificações responsável pela sustentação do edifício". Achei curiosa ainda outra definição que encontrei num dicionário, que dizia "Pedaço de madeira grossa ou larga, como a cruz que Jesus carregou". Uau!

Qual foi a viga que Jesus foi buscar ao Jordão quando foi batizado? O Espírito Santo. 

Foi no Jordão, precisamente, que Jesus foi batizado por João Batista. Ali Ele entrou nas águas como um homem "comum" (se é que podemos chamar comum a Jesus) e saiu para ver os céus se abrirem, o Espírito Santo de Deus descer como uma pomba, vindo sobre ele, e  ouvir a voz do Pai, dizendo: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (Mt 3:17). Foi depois de sair das águas do Jordão que Jesus começou o seu ministério público. Podíamos achar tudo isto uma grande coincidência, mas Deus não faz nada ao acaso. 

Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente (Jo 5:19). 

O batismo de Jesus no Jordão foi simbólico de tantas formas, mas a que quero ressaltar aqui é esta: Jesus conhecia a fonte do Seu poder, Ele sabia que nada poderia receber enquanto homem sem que Deus Pai lho concedesse. E como tudo o que Jesus fez, mergulhar no Jordão serve para nos ensinar também esta grande lição. Não podemos receber coisa alguma, se do Céu não nos for dada (João 3:28).

Se queremos receber as promessas do Pai e viver a Sua plenitude, precisamos de ir ao Jordão buscar a nossa viga, que é Deus, na pessoa do Espírito Santo. É Ele e só Ele quem nos dá toda a estrutura que precisamos para construir uma casa forte. Sem Ele a capacitar-nos, a ensinar-nos, a fortalecer-nos, de nada nos servirá levantar uma nova habitação. Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam (Sl 127:1). O Espírito Santo é quem sustenta todo o edifício, então garante que Ele é a tua viga, porque quando vier a tempestade, a viga que escolhes é o que fará a diferença entre veres a tua casa permanecer de pé ou ser destruída (Lc 6:48).

E sucedeu que, derrubando um deles uma viga, o ferro caiu na água; e clamou, e disse: Ai, meu senhor! ele era emprestado. 

Estão os alunos de Eliseu a cortar árvores para fazer uma viga, quando o machado com que um deles está a cortar a madeira se parte e a parte de ferro cai à água. O aluno fica muito preocupado, porque o machado era emprestado e pede ajuda ao seu professor. 

Sabem, no tempo de Eliseu as vigas eram de madeira e isso implicava cortar árvores. À machadada literalmente. Era um trabalho que exigia esforço físico mas não só. Exigia as ferramentas certas.

Muitos de nós têm feito um esforço para erguer uma nova habitação como estes "filhos dos profetas", não só na nossa vida pessoal, mas também na vida da Igreja do Senhor, mas não tem sido fácil. E nem devia, porque este é um trabalho árduo, física e espiritualmente. Naturalmente que hoje em dia não andamos a cortar árvores literalmente, mas quando decidimos buscar em Deus uma estrutura e fazer Dele a nossa viga, é quase certo que teremos a nossa quota parte de "árvores" para cortar.

Há muitas "árvores" que precisam de ser tiradas do nosso coração. Outras do nosso caminho. Algumas bem altivas e arrogantes. Sentimentos e estados de alma que nos conduzem à inveja, à inferioridade, à mesquinhez e ao desamor. Atitudes que não combinam com o Jesus que queremos imitar. Embaraços que não nos permitem construir com eficácia a nossa casa...

A busca pela viga leva-nos por um processo duro, que exige muito de nós, que nos coloca em contacto com o nosso "eu", com as nossas raízes. E quando se fazem obras, especialmente em casas antigas, há muita coisa escondida que aparece quando menos se espera. Vamos com certeza encontrar obstáculos, "madeira mais dura de cortar", e às vezes, nesses embates, descobrimos que as nossas ferramentas não são as melhores, que talvez não estejamos tão preparados como pensávamos, tão aperfeiçoados como julgávamos, tão curados como gostaríamos.

Queremos tanto ser usados por Deus para construir algo na vida de outros, mas Ele quer ensinar-nos que não podemos edificar sem primeiro sermos edificados. Ferramentas que não estão em perfeito estado ou que são mal manuseadas, acabam partidas, tal como aconteceu na nossa história

Por outro lado, usar ferramentas emprestadas para empreender uma obra nunca será uma boa ideia. O que me lembra uma conversa que já tive várias vezes, com pessoas diferentes, inclusive comigo mesma. Nós não temos de ser iguais a ninguém. Deus escolheu-nos, a cada um, e capacitou-nos, individualmente com dons, talentos, para tudo o que precisaremos de fazer. E aquilo que ainda não sabemos, ou não temos, a Seu tempo, Ele nos dará. Mas não, nós queremos é o dom daquele e do outro. Gostamos de cobiçar o dom do lado e até tentamos que ele nos empreste. Mas adivinhem? Os dons não se emprestam. Podemos pedi-los a Deus (até devemos), mas muitas vezes Ele já nos deu tanto e nós não usamos, nem valorizamos. Pedimos mais, mas como queremos receber, se ainda nem usámos da melhor forma o que temos nas mãos? A Bíblia ensina que aquele que é fiel sobre o pouco sobre o muito será colocado. Pergunto eu, será que temos sido fiéis no "pouco"?

E disse o homem de Deus: Onde caiu? E mostrando-lhe ele o lugar, cortou um pau, e o lançou ali, e fez flutuar o ferro. E disse: Levanta-o. Então ele estendeu a sua mão e o tomou.

Diz que o machado se dividiu ao meio e o ferro caiu à água. E o machado é uma ferramenta de trabalho, mas é referido muitas vezes como arma de guerra na Bíblia. Então, lê o machado nesta história como as tuas armas de guerra no Reino de Deus. O teu machado é a tua autoridade, a tua oração, o teu jejum, a tua fé, a Palavra de Deus...

Há duas grandes lições que eu aprendo logo aqui. Uma: vigia, fica atento à tua vida e ao teu machado, porque na caminhada vamos perder e vamos cair. Isso é certo e não é tão preocupante assim. O que é e que vai determinar o resto da história é se tu percebes que isso aconteceu. Tal como este aluno, precisamos de perceber que o machado se partiu e se afundou. Reconhecer onde caímos, perceber o que temos deixado escapar-nos das mãos e afundar é crucial para continuarmos a obra.

Duas: Não tenhas medo de pedir ajuda. Nem vergonha. O jovem aluno pediu socorro quando viu o que aconteceu. E deixem-me dizer-vos que isto anda a escassear nos dias que correm. Os crentes parece que têm medo de não ser perfeitos. De repente parece que já não podemos ser frágeis, ter medo, sentirmos-nos fracos. O que é que os outros vão pensar? Não sei, mas tu também não devias querer saber. Deixem-me ser clara, nada é mais importante do que recuperar o que se perdeu. Se sentes que não consegues sozinho, não deixes de procurar a ajuda de alguém de confiança, com autoridade diante de Deus, que te ajude sem julgar, que esteja pronto a estender a sua mão para te levantar e tirar do fundo, tal como fez Eliseu.

A Palavra diz que o profeta atirou um pau para a água e que o ferro perdido começou a flutuar e o aluno pôde recuperá-lo. Não percebemos como isto aconteceu, porque a história não nos dá mais detalhes, mas eu tenho uma explicação, é que só Deus tem o poder para operar o sobrenatural e recuperar o que está perdido. Ele é o único que pode recuperar o que se perdeu em nós. Ele fê-lo em Jesus, a Fonte de água viva, e fá-lo todos os dias quando deixamos que essa água nos limpe e nos purifique de todo o pecado. 

Só Ele pode ir lá bem ao fundo do nosso ser e trazer ao de cima o "ferro", o que de mais forte há dentro de nós, mesmo quando nos sentimos partidos, divididos, fracos, incompletos, quando não acreditamos em nós mesmos... especialmente em momentos desses. E há, eu creio, algo de extremamente poderoso nessas fases em que somos só "madeira". Aí o Mestre carpinteiro, Jesus, pode vir e limar cada aresta, esculpir cada face à Sua imagem e semelhança, pode vir com a Sua Graça e dizer-nos o meu poder aperfeiçoa-se na tua fraqueza (II Co 12:9:). 

Para terminar a nossa história, quando o que se perdeu vier à superfície, quando encontrares esse tesouro, não percas tempo, tal como disse o profeta: "Levanta-o", agarra-o e não o deixes escapar.

E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Apocalipse 22:12

Shalom!



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