Wednesday, January 7, 2015

A SÍNDROME DE ADÃO



Ando a mastigar este texto desde o final de 2014 mas entre o Natal lá em casa, as férias e a Passagem de Ano ainda não tinha tido oportunidade de me sentar a escrever o que me vai na alma... E sim, esta deve ser a pior blogguer da web, que nem se dignou a vir desejar-vos Feliz Natal e um Bom Ano... Perdoam-me? Ainda vou a tempo? :) 

Nestas alturas (leia-se, no início de um novo ano), toda a gente gosta de falar de esperança, de fé, de novos projetos e de como um ano que começa é também uma oportunidade de começar de novo. E tudo isso está muito bem, mas precisamente porque toda a gente o diz eu não preciso de vos dizer mais do mesmo, pois então... portanto vou dizer-vos outras quantas coisas que também me parecem igualmente importantes e que, na minha humilde opinião, poderão fazer a diferença em 2015 (e sempre, já agora). 

No final de 2014 deparei-me com algumas situações que me levaram a pensar na forma como o ser humano gosta de culpar este mundo e o outro pela sua miséria. Dei por mim a refletir na necessidade que o Homem tem de atirar para cima dos outros as culpas dos seus problemas e de atribuir aos outros a responsabilidade e as consequências de escolhas que foram, na realidade, apenas suas. 

E para ser bem honesta, ao pensar nisto senti uma necessidade incrível de gritar alto e bom som "parem de culpar os outros daquilo que é única e exclusivamente responsabilidade vossa", "ultrapassem isso de uma vez", "responsabilizem-se".

A boa da verdade é que tenho dificuldade em lidar com pessoas que se agarram aos problemas e que os acariciam como se fossem um animal de estimação. Pior, justificam os seus problemas com os outros. O problema são sempre os outros. O erro está sempre nos outros. Se não é o marido, são os filhos, se não é o chefe, é o país, ou é a crise, ou é a sogra... é sempre alguém, mas nunca ele/ela. 

Se conhecem alguém assim certamente me vão compreender quando vos digo que isto no meu ponto de vista é muito mais do que mau feitio. Eu observo aqui sinais, sintomas, observo um padrão de comportamento, que conduz a uma condição. E ao pensar em tudo isto cheguei a uma conclusão, estas pessoas sofrem daquilo que apelidei de Síndrome de Adão.

Quando Deus criou o homem, e ainda antes de criar a mulher, Deus colocou-o no jardim do Éden para o lavrar e guardar e deu-lhe uma ordem simples:

E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Génesis 2:15-17

O resto da história já todos sabemos. A serpente enganou Eva induzindo-a a comer do fruto proibido e a parva foi oferecê-lo também a Adão que, diz a Bíblia, "comeu com ela" (Gn 3:6). 

É interessante o que acontece a seguir. Deus chega ao jardim como era habitual e chama Adão (claro que Deus já sabia de tudo, não sejamos ingénuos, mas quis dar-lhe uma oportunidade de ser sincero e se arrepender - e o Adão feito parvo não aproveitou... desculpem lá o desabafo!).  Adão lá lhe diz que se escondeu porque estava nú e então Deus confronta-o. Reparem, Deus confronta Adão primeiro, não Eva:

E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Génesis 3:11

E Adão responde o quê? "Oh senhor perdoa-me, tu disseste para não comer, mas eu comi"... Naaaaaa... 

Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi. E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Génesis 3:12,13

O magano culpou a mulher, ora pois! Pior, culpou Deus, porque ainda tem a lata de dizer "a mulher que me deste"... E vá, para não dizerem que estou a querer culpar os homens, a Eva por sua vez culpa a serpente... que bonito, sim senhor... Olhem que dois! E é destes cromos que nós descendemos... 

Vêem aqui alguma semelhança com os dias de hoje? Os miúdos estão à bulha, os pais perguntam quem começou. Eles respondem: "foi ele". Síndrome de Adão. Pimbas. 

O marido não ajuda em casa, a mulher torna-se uma pedra - mas não das preciosas que brilha não...daquelas que partem cabeças - e diz ela: "a culpa é dele, que não me ajuda". Síndrome de Adão. Pimbas. 

O casamento está por um fio, mas a culpa é de quem? Da sogra... Síndrome de Adão. Pimbas. 

E já nem vou falar daquela que é super cliché "ah porque é que as crianças morrem em África". Pois, a culpa deve ser de Deus... Síndrome de Adão. Pimbas! 

E poderia continuar aqui a falar de situações do dia-a-dia, simples, em que nós temos a tendência de sempre dizer que o problema está no outro. Não é por acaso que o fazemos. Há toda uma herança que vem desde o princípio, esta inclinação ao erro e ao apontar de dedo que entrou no mundo pelo primeiro Adão ainda hoje nos persegue e ainda hoje nos leva a destruir, muitas vezes com as nossas próprias mãos (e boca), a nossa vida, seja nas amizades, no casamento, no relacionamento com os filhos, no trabalho, enfim.

O problema, no meu ponto de vista, não está em ocasionalmente fazermos isto (desde que o saibamos identificar e corrigir, claro está). O problema é quando isto se torna uma constante na nossa vida e começamos a fazer disto um hábito. 

Hoje a culpa é da mãe, amanhã é da mulher, depois do filho, do amigo, do pastor... e quando damos por ela estamos enredados num ciclo de auto-comiseração, a sentirmos pena de nós mesmos e a culpar toda a gente, sem por um momento sequer nos olharmos ao espelho e perguntarmos se não há um bocadinho de responsabilidade nossa no assunto. Quando damos por ela somos adultos mesquinhos, imaturos e egoístas e o pior é que estamos tão cegos que não o conseguimos sequer ver. 

Não me interpretem mal, eu sei que às vezes vivemos situações que são provocadas por alguém. Sim, às vezes foi o marido, a mulher, o pai, a mãe, a irmã, o tio, a melhor amiga, o chefe que começou, mas a minha pergunta é, se alguém começou, não seremos nós capazes de o dar por terminado? 

A meu ver temos duas opções quando alguém nos fere, nos magoa, nos cria um problema - ficar contra essa pessoa e viver o resto da vida a ruminar o que ela nos fez e a dizer a todos os que passam como fomos magoados, abusados, enganados ou... podemos fazer como Paulo nos ensinou em Filipenses 3:13 e 14:

(...) esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo (...). 

Sabem, toda a gente tem problemas. Eu tenho problemas. Tu tens problemas. Muitos dos que vemos sorrir às vezes têm toneladas de motivos para chorar. Então porque é que olhamos para eles e parecem sempre de bem com a vida? Não são eles também humanos? Não sofrem? Não são magoados? Não ficam tristes? Claro que ficam! Claro que ficamos! 

A diferença está na escolha que se faz quando se enfrenta o gigante. Aqueles que sabem quem é o Seu Deus vão em frente, prosseguem para o alvo como David e como Paulo. Os outros, bom, esses escondem-se debaixo de armaduras e esperam que alguém mate o gigante, que alguém resolva o problema por eles.  

Deixem-me abrir aqui um parêntesis. 

Na mesma altura em que Samuel ungiu David, o reinado de Saúl em Israel estava a passar por uma crise. Deus havia rejeitado o Rei Saúl e lemos inclusivamente que "o Espírito do Senhor se retirou" dele (I Samuel 16:14). A juntar a este cenário acrescia ainda a guerra com os filisteus, nada fofinhos e armados até aos dentes. 

E estou-vos a contar isto porquê? Porque tal como acontece com muitos de nós, também David se viu no meio de uma guerra que não era dele. O rapaz que nem soldado era viu-se a braços com um problemaço que, não tendo provocado, o afetava profundamente. Sim, porque as guerras provocam dor, morte e fome às populações e David não só era um filho da terra, israelita, como tinha os irmãos a lutar no exército de Saúl, portanto,sem ter culpa nenhuma, o miúdo ficou à mercê das circunstâncias. Ring a bell? Estão a notar aqui alguma semelhança com a nossa vida? 

Mas continuando, durante a guerra, Golias, um grande guerreiro filisteu, desafia os israelitas a escolherem um opositor à sua altura para o enfrentar e se a coisa já não estava famosa, aí então é que o caldo se entornou. Os grandes guerreiros, cheios de armaduras e tal piraram-se todos, meteram o rabinho entre as pernas e ala que se faz tarde. E para quem é que sobrou resolver o problema, que by the way ele não começou? Para o pastor de ovelhas, pois claro! 

Se David sofresse da Síndrome de Adão tinha-se assentado lá no bar da terra a falar mal de Saúl, a culpar o rei e Deus que o pôs no trono(como provavelmente muitos devem ter feito), a lamentar-se por estarem a perder a guerra e a chorar-se porque ia perder a casa e a família. E é isto que muitos de nós fazemos quando nos deparamos com um problema. Mas David escolheu um caminho melhor. Decidiu que não seriam as circunstâncias a definir quem ele era. Decidiu confiar em Deus e seguir para o alvo. Foi contra Golias pela fé e o gigante caiu. Pimbas! 

[Eu nem ia falar de David, mas Deus tem destas coisas...] 

Mesmo quando não temos responsabilidade no início de um problema, o que acontece muitas vezes, podemos sempre ter responsabilidade no seu fim. Em última análise há sempre uma forma de fazermos algo, transformando a culpabilização do outro em responsabilização nossa. 

Escolher perdoar uma má atitude de alguém que nos magoou, por exemplo, é um ato de tomar para nós mesmos a responsabilidade sobre esse problema especifico. Ainda que a "culpa" de estarmos tristes inicialmente tivesse sido de quem nos feriu, ao perdoarmos a pessoa, estamos a escolher tomar para nós a responsabilidade da resolução do problema e, com isso, estamos a colocar-lhe um ponto final. E assim é com tudo o resto. Se fizermos isto de todas as vezes que algo ou alguém nos atinge, seremos capazes de continuar a caminhar, sem pedras nos sapatos. 

O problema de nos focarmos na "culpa", ou melhor dizendo, de atribuir a responsabilidade de um determinado problema que nos afeta, a outrém, é que estaremos o resto da vida dependentes de uma acção dessa mesma pessoa para o resolvermos e isso sim é que é um grande problema, ou virá a ser no futuro. 

Eu não posso deixar que a minha vida, a minha felicidade, as minhas emoções sejam determinadas pelas escolhas e acções (ou não acções) dos outros. Isso leva-me a um lugar de prisão eterna. Ao fazê-lo estou a dar a alguém o poder de decidir quem eu sou e o que eu faço e não é isso que Deus tem para nós. Esse poder está nas tuas mãos. A cruz dá-nos esse poder, a oportunidade de ver a vida através os olhos de Jesus e de a viver através da vida que Jesus nos concedeu. 


eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. João 10:10

Não, Jesus não morreu por nós para que hoje tenhamos uma vida medíocre. Ele não quer que te escondas na caverna com pena de ti mesmo, a vida inteira a achar que és o único com problemas. Enquanto olhares para as pessoas, para as situações, para os problemas com uma visão limitada nunca vais ser capaz de receber esta vida abundante que Deus tem para dar. 

Enquanto escolheres culpar os outros e até Deus pelos teus fracassos a única coisa que vais conseguir é afundar-te mais ainda, afastar-te de Deus e das pessoas.  

Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. (João 8:36) 

Jesus foi capturado, preso, torturado e morto para que hoje fosses livre e o que tens tu feito com isso? Fechas-te dentro da tua concha, cheio de pena de ti mesmo, cheio das tuas razões e enquanto isso a vida passa-te ao lado, os outros vivem e são felizes, mesmo com as suas lutas e as suas dificuldades e tu? Continuas cheio de rancor, com o coração cheio de falta de perdão, a culpar o pai, a mãe, o cão, o papagaio e o piriquito, meio mundo, pelas tuas misérias. 

Eu gosto de pensar que sou uma pessoa otimista e uma mulher de fé. Tenho os meus momentos, claro, mas regra geral gosto de ver as coisas boas, da vida e das pessoas, e isso ajuda-me a estar de bem comigo e com os outros. Isso ajuda-me a ser feliz. Tenho plena consciência que isto não vem de mim, mas é dom de Deus, claro. Foi Ele que me deu esta capacidade de me libertar do que me limita (e como eu era limitada...). E sabem que mais? Está disponível para todos.  

O "coitadinho de mim" definitivamente é coisa que a mim não me assiste e se for o "coitadinho-de-mim-o-mundo-está-contra-mim" pior ainda! Amor próprio é algo que nos faz falta sabem, e se Deus nos amou de tal maneira que enviou o Seu Filho para morrer por nós, como poderemos nós não nos amar? 

Por favor, em 2015 amem-se, não em primeiro lugar, de uma forma egoístico-cêntrica (inventei agora), mas amem-se primeiro a vocês para poderem depois amar e perdoar o resto do mundo, por muito mal que ele vos faça. Olhem para dentro de vocês mesmos e descubram o pedaçinho de Deus que há aí dentro, a Sua essência transformadora, afinal nós fomos feitos à Sua imagem e semelhança.

O meu desejo para 2015 é que possamos ser capazes de amar mais, a Deus, a nós e aos outros. Porque se este se cumprir tenho a certeza que será um ano fantástico! 

Feliz 2015
Shalom!

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3 comments:

  1. Olá querida tudo bem? Muito bom o texto, gostei quando você disse no fim do texto que em 2015 possamos amar mais. Estou com saudades de suas visitas lá no blog Mais Que Charme. http://maisquecharmeoficial.blogspot.com

    Quanto tempo em.... muito lindo e abençoado continua seu blog.... beijos
    de Adrielle Kawahara

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    1. Oi amada, a Paz! Obrigada pelas suas palavras e pelo carinho. Toda a honra e toda a glória é para o Senhor. Passarei lá sim ;) beijinho e um bom ano, cheio de vitórias e do poder de Deus em sua vida e de sua família!

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  2. Olá querida tudo bem? quanto tempo em, talvez nem lembre de mim, sou a Adrielle do blog mais que charme (http://maisquecharmeoficial.blogspot.com.br) continua lindo e abençoado com mensagens edificantes o seu blog. Parabéns pela mensagem, por não assumirmos a responsabilidade do nosso erro, muitas vezes culpamos ao outros e nos esquecemos que erro é caracteristica própria, não tem como atribuir culpa ao outros, mas sempre colocamos culpa em alguém por nosso e nunca assumimos. Muito bom o texto, Adão colocou a culpa em Eva e Eva na serpente.

    Passe lá no meu blog, um abraço.
    Deus abençoe, Shalon.

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Obrigada pelo teu comentário. Deus te abençoe.