Monday, June 20, 2016

O MONTE E A PROMESSA


Tenho este nos rascunhos há umas semanas, mas ainda não tinha parado para o terminar. Realmente o tempo de Deus é algo curioso, já pensaram nisso? Algo acontece hoje, mas só vai ter impacto lá mais à frente, às vezes anos depois. Começamos algo hoje, mas só vemos a sua concretização muito tempo depois... Será que também há rascunhos na tua vida? Coisas guardadas em gavetas à espera de verem, finalmente, a luz do dia? Sabe que, com Deus, nada fica por escrever, a Seu tempo tudo o que Ele começou, encontra o seu fim. 

Hoje quero falar-vos sobre promessas e montes. E quero usar a conhecidíssima história de Abraão e Isaque como ponto de partida.

Toma Isaque, teu filho, teu único filho, a quem tu muito amas, e vai-te à terra de Moriá. Sacrifica-o ali como holocausto, sobre um dos montes, que Eu te indicarei!...
Abraão levantou-se bem cedo, selou seu jumento e tomou consigo dois de seus servos e seu amado filho Isaque. Ele ainda partiu a lenha para o holocausto e se pôs a caminho rumo ao lugar que Deus havia mostrado. 
No terceiro dia, Abraão, levantando os olhos, viu de longe o lugar que Deus havia determinado. Génesis 22:2-4

Resumindo a história, Deus põe a fé de Abraão à prova e pede-lhe que sacrifique o filho Isaque, que Ele mesmo, Deus, lhe prometera e que Abraão tinha tido com Sara já na velhice. Abraão obedece, convicto de que Deus providenciaria o cordeiro para o sacrifício ou, mesmo que não, que ressuscitaria o menino. 

Durante três dias Abraão caminhou em direcção aquele monte, sem saber bem o que ia acontecer. Provavelmente conversou com Isaque durante a viagem, riram, brincaram, se calhar choraram... não sei, mas não acredito que aquele pai não tenha abraçado o filho, o filho que ele já não esperava ter e que agora ia entregar a Deus. Não, não posso acreditar que aquele homem não se tenha emocionado por um momento. Ele era homem, lembremo-nos disso. Humano, frágil, limitado, tal como nós. Eu no lugar dele abraçaria o meu filho com todas as minhas forças, para que ele tivesse a certeza de que eu o amava. E acredito que com Abraão não tenha sido diferente. Talvez enquanto Isaque dormia ele se esgueirasse para longe para elevar os seus pensamentos a Deus, para chorar e derramar o seu coração diante de Deus... Porque não?   

A Bíblia não nos dá muitos detalhes e por isso vemos sempre esta história de uma maneira muito ligeira, porque já sabemos o fim, mas Abraão não sabia. Ele apenas tinha fé de que Deus ia cumprir a promessa que lhe fizera lá em Génesis 17, mas ele não sabia como. E mesmo que Deus ressuscitasse o filho, como ele imaginava, acham que não lhe custava matar o próprio filho? Imagino o que terá passado pela cabeça daquele homem... pergunto-me se pensamentos como "será que foi mesmo Deus que falou comigo?" ou "porque é que Deus me faria uma coisa destas?", ou "será que o meu filho vai entender?" lhe passaram pela cabeça. Sabe Deus que passam pela nossa muitas vezes. E já pensaram onde é que Sara entrava no meio disto tudo? O que é que Abraão terá dito à mulher que ia fazer com o seu único filho? Será que aquela mãe sabia que o marido ia sacrificar o seu menino? 

Abraão caminhou durante três dias com Isaque e os seu servos, até que avistou o monte ao longe. Nesse momento pediu ao servos que esperassem ali por eles e subiu ao monte com o filho.  Muitos te acompanharão na caminhada, para te ajudar a carregar a lenha, para te proteger e até te servir, mas a subida ao monte é entre ti e Deus. És só tu e o fruto da tua obediência. Tu e o teu Isaque, seja ele um filho, um casamento, um ministério, um sonho... 

Eu não sei qual é o teu Isaque, mas subir ao monte dói. Subir ao monte do sacrifício é uma escolha pessoal de rendição total, de entrega completa ao Pai, crendo que Ele sabe o que faz e não nos pede mais do que podemos suportar. 

Talvez venhas sentindo que estás sozinho e talvez isso te esteja a custar. Sentes que és o suporte de todos, mas que ninguém te suporta a ti. Que dás e dás, mas só precisavas de receber um pouco. Estás a subir o monte. Abraão também estava nessa posição. Ali a subir ao monte agora só com o filho, sozinhos, ele não podia dar-se ao luxo de se ir abaixo. 

E quantas vezes é assim na nossa vida? Sorris por fora e tentas fortalecer todos à tua volta, mas por dentro só te apetece chorar. Quem é pai vai entender. Se estivesses a subir ao monte para sacrificar o teu filho certamente irias querer que ele se sentisse o mais seguro possível, verdade? Não ias querer que ele tivesse medo.  Provavelmente dirias "vai correr tudo bem". Abraão era pai, ora ponham-se na pele dele. Foi com certeza isso que ele fez. 

Wednesday, June 1, 2016

O CONVITE


Hoje apeteceu-me ler a Bíblia de maneira diferente e resolvi ligar a versão em áudio da Bíblia Online. Por incrível que pareça nunca tinha experimentado e até gostei, acho que me ajudou a concentrar (fica aqui a dica para quem não é muito amigo de ler. Vão a este site, escolham o que querem e é só clicar em "ouvi").
Ouvi (e acompanhei a leitura ao mesmo tempo) o capítulo 4 de Marcos e, por fim, detive-me numa frase. Transcrevi abaixo o versículo completo, mas o que me chamou mesmo a atenção foi o que escrevi a negrito. 

E, passando mais adiante, viu outros dois irmãos - Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os chamou. Estes, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram- no. Mateus 4:21,22

Esta passagem conta-nos basicamente o momento em que, depois de ter chamado Simão Pedro e André, Jesus dá de caras com os filhos de Zebedeu, Tiago e João, e os chama. Não sei quanto a vocês, mas eu cá fiquei a tentar imaginar a cena. Comecei a imaginar Jesus a dar início ao Seu ministério e a passar pelas pessoas e a chamá-las. Como é que terá sido? Será que Ele chegava e pimbas ala-que-se-faz-tarde-anda-lá-comigo-curar-pessoas? É que quando lemos parece que é tudo muito rápido, mas eu cá acho que não foi bem assim (se calhar estou a cometer uma heresia qualquer, mas vá...deixem-me).
Cá com os meus botões eu imaginei que Jesus chegou e meteu conversa com eles. Pronto. Deve-se ter apresentado, perguntado o nome deles, quiçá perguntado se precisavam de ajuda para arranjar as redes... e conversa puxa conversa, os jovens devem ter começado a conversar sobre a vidinha e os seus sonhos e tal, digo eu! E Jesus, que não era um qualquer, com certeza disse-lhes coisas que lhes devem ter arregalados os olhos. Sei lá, qualquer coisa como "eu tenho uma missão, salvar o mundo, e preciso de ajuda" (Jesus devia ser um homem muito inspirador). Claro que eles não foram parvos, quando Jesus os convidou a seguir viagem com Ele, disseram logo que sim! Ora vamos lá ver na balança (se me estivessem a ver agora era mais fácil) ser pescador ou salvar o mundo? Salvar o mundo ou ser pescador?... A escolha deles a gente já sabe. 

[Pronto, se calhar não foi nada assim, mas na minha cabeça faz muito mais sentido. Deixem-me ser feliz ehe]

Deus chamou-nos. A cada um de nós, para O conhecermos e caminharmos com Ele. Ele convidou-nos a fazer parte de um Reino Eterno. Não são homens que te chamam, não é o teu vizinho, o teu amigo, a tua mulher, o pastor x ou y, não, é Deus, o Criador, o Autor e Consumador da nossa fé, é Ele quem chama a cada um pessoalmente. 

E este "chamou-os" que lemos no verso 21 vem do grego ekalesen, que significa chamar, convocar, convidar. Jesus não chegou e simplesmente gritou o nome deles como quando estamos na rua e passamos por alguém "oh manel!". Nada disso. Jesus fez-lhes um convite, que eles prontamente aceitaram. 

Tiago e João eram pessoas comuns, bem como o eram alguns dos outros discípulos, eram pescadores, homens simples, humildes até. Mas Jesus convidou-os a segui-lo, a participarem com Ele de uma missão maior. 

Ele também nos faz esse convite ainda hoje. A ti e a mim, independentemente do nosso estado civil, da nossa religião, da nossa cor, da língua que falamos, da roupa que vestimos, do dinheiro que temos na conta... Não importa. Deus não faz acepção de pessoas. Ele enviou Jesus, Seu filho, para que todos nós pudéssemos ser convidados a fazer parte do Reino. Para que todos pudéssemos ser filhos de Deus e um dia vivermos com Ele na Eternidade. 

A Bíblia diz-nos que estes jovens deixaram imediatamente o barco e o pai, que foi outra das coisas que chamou a minha atenção.