Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; João 15:5a
Há uns dias cortei um pequeno ramo de uma flor de um jardim. Adoro aquelas flores e pensei "vou cortar um raminho, pode ser que em água crie raíz e eu possa depois plantá-la". Durante uns dias deixei-a bonita e viçosa dentro de uma jarrinha a enfeitar a minha cozinha, mas não muito tempo depois as flores começaram a secar e a perder cor.
Hoje veio-me à mente esta passagem de João 15 e recordei-me da minha flor, cortada, longe da sua fonte de alimento, longe da sua videira...
Também nós somos um bocado como este ramo que eu cortei. Insistimos em cortar a nossa ligação à Fonte que nos dá vida, quando decidimos ser independentes, quando decidimos que não precisamos da Videira para sobreviver.
Pensamos "sou capaz de me desenrascar sozinho", ou às vezes nem pensamos sequer, simplesmente nos afastamos. Oramos menos, refletimos menos, amamos menos. Começamos a fazer as coisas na nossa força e quando damos por nós estamos longe... estamos tão longe que quando olhamos para o ramo, deparamo-nos com a triste realidade: está seco, as flores estão murchas e sem cor, os frutos apodreceram, o ramo morreu.
Mas aquilo que vos quero passar hoje é mais profundo ainda e Deus me ajude a conseguir encontrar as palavras certas para o dizer.
(...) porque sem mim nada podeis fazer. João 15:5b
O dia-a-dia envolve-nos em tarefas, em dificuldades, em circunstâncias para as quais tantas vezes não temos resposta. Os problemas acumulam-se e muitos não parecem ter um fim à vista. No trabalho, em casa, na escola, na igreja, deparamo-nos muitas vezes com situações que nos pressionam, nos encostam à parede e fazem despontar em nós sentimentos, emoções e reacções que não gostaríamos de ter e sentir.
E é aqui que a nossa natureza se revela. Ouvi um dia alguém dizer que só conhecemos o sabor do fruto quando o trincamos e assim é. Quando a dor aperta e quando à nossa frente as pedras viram tropeços olhamos ao espelho e vemos aquilo que somos sem Cristo. Vemos a carne a falar mais alto. Vemos o espírito a ser vencido por pensamentos, por atitudes, por palavras...
E eu não sei quanto a vocês, mas a mim isso incomoda-me. Não gosto de ter defeitos. Não gosto de saber que reajo mal, que respondo mal, que às vezes as minhas atitudes não agradam a pessoas e, principalmente, que não agradam a Deus. Mexe comigo e dou por mim a tentar mudar, a tentar agir de outra forma, a tentar, tentar, tentar...
E talvez tu também tentes muito e nunca vejas nada a acontecer. Esforças-te tanto e não vês nada. Matas-te a trabalhar e o teu ordenado não aumenta. Dás o teu melhor na igreja, em casa, ajudas toda a gente, mas ninguém te agradece. Até te disciplinas para não dizer o que não deves, para vestir o que convém, para ser o que é suposto. Tentas, tentas, tentas, mas tudo parece dar o mesmo fruto: nenhum.
E porque é que no meio de tanta tentativa os nossos feitios continuam na mesma, os trabalhos não mudam, as vidas não mudam, os pensamentos não mudam, e as más palavras mantêm-se? Eu digo-vos porquê. Porque não entendemos que para crescer temos de estar na Videira. Porque não depende de nós e dos nossos esforços, mas Daquele que nos deu vida. Porque sem Ele nada podemos fazer.
"quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto" - quem está na videira recebe a vida que há na Videira. Os ramos que estão nela não murcham, não morrem, as suas flores nascem e morrem segundo o seu ciclo natural, mas passado um tempo voltam a nascer, porque a Fonte está sempre lá. O alimento não lhe falta e o crescimento do ramo é contínuo.
De estação para estação nele nasce o fruto e dele é colhido, nele nasce a flor e cai no tempo certo, ele é podado e continua a crescer, nele cai a folha quando tem de cair e nele tudo continua a fluir, porque a Videira que lhe dá vida e o mantém saudável. As intempéries atacam-no, mas ele está bem preso, dobra-se diante delas, mas não se parte porque a Videira o sustém.
A força que vem de Deus, da Videira, é eterna. As nossas forças acabam... e depois? Quando a fraqueza vem, o que é que acontece? Volta tudo ao mesmo.
Os teus maiores esforços podem até dar resultado num curto espaço de tempo, mas serão sempre sol de pouca dura, porque sem Ele "nada podeis fazer". Se não estiveres na Videira, o teu ramo vai durar apenas o tempo suficiente para te iludires de que és capaz de chegar lá sozinho. Mas não conseguiste, "porque sem mim nada podeis fazer".
Na luta de carne contra carne, o único vencedor é satanás. Para venceres as tuas fragilidades, as tuas limitações, os teus defeitos, só podes contar com uma arma: o poder do Espírito Santo de Deus.
O que Deus quer efetivamente é que possamos depender Dele e da sua vontade, crentes de que tudo Ele fará por nós. Ele quer operar em nós uma transformação real, mas isso acontece pelo poder do seu espírito e não pela força que algum ser humano possa empreender. (Zacarias 4:6)
De onde vinha a força de Sansão?
Era o poder do Espírito Santo que se movia em Sansão e fazia dele um homem invencível. Porém, quando ele decidiu agir por si mesmo, entendeu da pior forma que a sua força não lhe pertencia... Sairei ainda esta vez como dantes, e me sacudirei. Porque ele não sabia que já o SENHOR se tinha retirado dele. (Juízes 16:20)
De onde vinha a força de Davi?
O homem segundo o coração de Deus era um jovem quando enfrentou um leão, um urso e o gigante Golias. Todos eles caíram diante dele. De onde vinha a sua força? Do Deus Todo Poderoso. Mas, ao contrário de Sansão, Davi sabia quem era a sua fonte. Ele estava na Videira.
Disse mais Davi: O SENHOR me livrou das garras do leão, e das do urso; ele me livrará da mão deste filisteu. Davi, porém, disse ao filisteu: (...) venho a ti em nome do SENHOR dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado. Assim Davi prevaleceu contra o filisteu, com uma funda e com uma pedra, e feriu o filisteu, e o matou; sem que Davi tivesse uma espada na mão. (I Samuel 17:37-50)
De onde vinha a força de Ester?
Ester era rainha da Pérsia, mas era primeiramente filha de Deus e, tal como Davi, sabia quem pelejava por ela. Ester conhecia o Deus do impossível e sabia que a única forma de conseguir a libertação do seu povo era confiando Nele, era estando na Videira.
Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de dia nem de noite, e eu e as minhas servas também assim jejuaremos. E assim irei ter com o rei, ainda que não seja segundo a lei; e se perecer, pereci. (Ester 4:16)
E sucedeu que, vendo o rei à rainha Ester, que estava no pátio, alcançou graça aos seus olhos; e o rei estendeu para Ester o cetro de ouro, que tinha na sua mão, e Ester chegou, e tocou a ponta do cetro. (Ester 5:2)
O Deus que concedeu força sobrenatural a Sansão, o Deus que batalhou por David, o Deus que protegeu Ester é o mesmo ontem, hoje e amanhã. O Deus de todos eles é o teu e o meu. Ele é a Videira verdadeira (joão 15:1) e sem Ele nada há que dê bom e duradouro fruto, sem Ele nada podemos fazer.
O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O SENHOR é a força da minha vida; de quem me recearei? (Salmos 27:1)